Vendedores de história

Vender livros de porta em porta, quem diria, é uma profissão que ganha cada vez mais força

O emprego do futuro é uma coisa do passado. A expectativa é que já no próximo mês a Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL) assine um convênio com o Ministério do Trabalho para o recrutamento e capacitação de milhares de novos vendedores de livros de porta em porta. Sim, os vendedores de Barsa, livros de autoajuda, guias culinários e romances açucarados estão em posição de destaque na pirâmide econômica do século 21.
Só no ano passado, quase 20 milhões de livros foram vendidos neste sistema. Tudo isso graças ao talento e ao gogó de 35 mil vendedores bons de lábia. Os hits do ‘porta em porta’ são os livros de autoajuda e os espíritas (Zibia Gasparetto é um fenômeno). De acordo com a Avon, que também trabalha com esse tipo de venda, a cada três exemplares vendidos de O Segredo, um foi através desta abordagem. Ou seja, na casa ou no trabalho dos consumidores.
Segundo Luís Antônio Torelli, presidente da ABDL, o salário de um vendedor é de, no mínimo, R$ 1 mil. Já a diretora de treinamento e marketing da Barsa garante que um iniciante tira R$ 3 mil. “Com mais experiência, a pessoa pode ganhar R$ 5 mil, R$ 10 mil… Tem casos extremos como o de uma vendedora que fez uma venda de R$ 18 milhões para a Biblioteca Nacional do Rio. Daí, ela ficou com 25%. É só fazer as contas (R$ 4, 5 milhões).”
Apesar de parecer improvável, a explicação para o sucesso deste tipo de venda é fácil de ser assimilada. “Consumidores da classe C e D, mesmo os que possuem computador em casa, resistem à ideia de comprar livros (ou qualquer outra coisa) através da internet. Além disso, entrar em uma livraria é considerado intimidador por parte deste público. Então, levamos os livros até eles”, diz Torelli.
O JT acompanhou dois vendedores de livros, Odete Nakamura Gonçalves, 54 anos, e Fernando Foster, 48 anos. “A gente tem de ser simpática”, fala Sueko. “O emocional é importante”, diz Fernando Foster.
Sueko tem um pequeno comércio de produtos de beleza na região central da cidade. Nas horas vagas, visita outros comércios pela vizinhança oferecendo produtos de beleza e livros. “Salão de cabeleireiros e manicures são ótimos para vender livros. Além disso, minha amizade com as clientes ajuda muita”, garante.
Sueko visita uma de suas clientes, Ruth Lussin Pinheiro, gerente de um café na região da Consolação. A técnica dessa descendente de japoneses é impressionante. Depois de mostrar alguns livros, conversar amenidades e rir de piadas, ela toca no delicado assunto da morte do marido de Ruth.
– Você tem lido mais depois que seu marido faleceu…
– Tem me ajudado muito, viu. Agora, tenho mais tempo pra ler os livros que eu sempre quis…
Bingo. Ruth comprou mais um livro espírita. “Gosto de comprar assim. Não tenho tempo de ir a livrarias. Acho mais confortável. Além do mais, gosto de bater papo com a Sueko”, comenta Ruth.
O outro vendedor porta a porta, Fernando Foster, vende a enciclopédia Barsa há 28 anos. “Herdei a profissão do meu pai. É uma coisa de família mesmo”, diz. Foster é um vendedor nato. Em poucas palavras, ele pode convencer um potencial comprador de que a internet não é tão boa assim, que as crianças precisam de uma formação sólida através de uma enciclopédia confiável e que a Barsa é um investimento para a vida toda. “Agora, a Barsa é composta pelos livros, por CD’s e acesso a um site na internet. Nós visitamos os clientes com laptop e tudo. Precisamos estar atualizados para ter sucesso na venda. Vender é um vício”, diz Foster.

Autor: Gilberto Amendola – Grupo Estado

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ABDL

Associação Brasileira de Difusão do Livro, fundada em 27 de outubro de 1987 é uma entidade sem fins lucrativos, que congrega o setor chamado porta a porta, ou venda direta (fora internet).

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