Um símbolo da cultura paulistana está prestes a reabrir as portas para a população. Após uma profunda e atrasada obra de restauração, que começou setembro de 2007 e deveria ter ficado pronta em 18 meses, a Biblioteca Mário de Andrade, no Centro, está prestes a voltar à ativa, o que deve acontecer em um mês (a data exata ainda não foi definida). A principal novidade será a volta da biblioteca circulante — que faz empréstimos de livros — ao edifício sede da Mário de Andrade, na Rua da Consolação, 94. O tamanho do acervo pode chegar a 60 mil obras.
Para dar conta do aumento no número de títulos, foi construído um mezanino de aço, uma exigência do Patrimônio Histórico, pois o prédio é tombado, o que não permite intervenções de alvenaria.
Mesas e cadeiras antigas, da época da sua fundação, foram restauradas e colocadas na área de consulta. Durante o dia, a luz entra pelas vidraças, que tem película para filtrar os rais ultravioletas. Sobre cada uma das mesas, há duas luminárias, que facilitam a leitura ao entardecer.
Também foi construído um café, com jornais e revistas, e uma área de estudo independente do aluguel de livros. Espaços para saraus e lançamentos de livros foram incluídos. Para facilitar o acesso de pessoas com dificuldades de locomoção, foram instaladas rampas e três elevadores.
Outra novidade é a Coleção São Paulo, que reúne obras que falam sobre a cidade em seus mais diversos aspectos, como arquitetura, sociologia, botânica, bairros e, claro, futebol. “Queremos criar um ponto de referência para a pesquisa. É a primeira vez que se faz esse recorte sobre a cidade. Estamos em busca de todos os planos diretores”, explicou Maria Christina Barbosa de Almeida, diretora da biblioteca.
A coleção de mais de 23 mil títulos da Organização das Nações Unidades (ONU) e entidades filiadas, como Unicef e Unesco, também ganharam um espaço especial. “Somos os únicos em São Paulo com esse material”, disse a diretora.
Limpeza em cada página
Todo o acervo da Biblioteca Mário de Andrade, o segundo maior do país, passou por uma inspeção. O material para empréstimo foi atualizado, com obras mais modernas. Os títulos em duplicidade foram doados a outras instituições.
Desde quando foi fechada, quase 4,7 mil obras foram compradas. “É a primeira vez que se faz uma política de aquisição de livros”, revelou Maria Christina Barbosa de Almeida, diretora da biblioteca. Foram investidos em livros sobre os mais diversos assuntos. “São obras gerais. Nada de conhecimento específico. Nós vimos que tem muitos grupos de teatro na região. Então, compramos bastante material sobre o assunto, por exemplo”, disse.
Já o acervo histórico foi desinfetado. “Os livros eram colocados em uma câmera e todo o oxigênio era retirado. Os insetos morriam por asfixia”, explicou William Okubo, diretor de acervo da Mário de Andrade. As obras estão sendo limpas para tirar qualquer vestígio de sujeira ou veneno de outras desinfestação. “São mais de 200 mil livros que estão sendo limpos página por página”, contou William.
As entradas e saídas de ar condicionado também estão todas vedadas, para que nenhum outro inseto consiga entrar. O prédio também ganhou equipamentos de combate a incêndio de gás carbônico (a seco).
Vale lembrar que o acervo histórico não é de livre acesso do público. A biblioteca abriga obras como uma bíblia escrita em 1490, que está entre as peças mais antigas.
Especialistas comemoram
A reabertura da biblioteca é aguardada há tempos por pesquisadores e profissionais da literatura. “A Mário de Andrade leva o nome de um grande intelectual e traz consigo uma responsabilidade cultural e social muito grande”, disse Marta Valentim, coordenadora geral de bibliotecas da Universidade estadual Paulista (Unesp).
A variedade de obras também é um destaque do acervo. “Há muitos títulos regionais na Mário de Andrade, que você não encontra nas grandes livrarias”, contou Luís Antônio Torelli, presidente da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL). “As bibliotecas são as principais fontes para criar novos leitores”, completou.
A reforma agora está concentrada na recuperação do antigo prédio do Instituto de Pagamentos Especiais de São Paulo (Ipesp). Nos 15 andares do edifício, que fica ao lado da sede da biblioteca, será abrigada a coleção de 2,8 milhões de fascículos de jornais e revistas, além de um laboratório de digitalização e microfilmagem. Esta obra, porém, só deve ficar pronta em 2011.
Autor: Thiago Calil
Fonte: Diário de S. Paulo
