Evento da ABDL no interior paulista reúne 200 vendedores de porta a porta para discutirem o impacto do Vale-Cultura no mercado
Bragança Paulista (SP) é uma típica cidade do interior do Brasil. Seus 157 mil habitantes não têm acesso a cinema, teatro ou mesmo a livrarias. Não por acaso, a cidade foi escolhida para sediar a 12ª edição do Salão de Negócios da ABDL (Associação Brasileira de Difusão do Livro) iniciada na tarde dessa segunda-feira (17). É em cidades como Bragança que os associados da ABDL tem suas melhores performances. Os vendedores de porta a porta, figura já pouco vista em grandes centros, aproveitam a falta de livrarias em cidades como Bragança e fazem a festa. Com isso, de acordo com Diego Drumond e Lima, presidente da entidade, as vendas porta a porta ficam em segundo lugar no ranking do mercado varejista do livro, perdendo apenas para as livrarias (está à frente até mesmo do mercado online).
Em Bragança, estão reunidos mais de 200 vendedores porta a porta vindos dos quatro cantos do País. Eles discutem, até o próximo dia 21, temas relacionados à vendas, novas oportunidades e novos modelos de negócios, mas o campeão de audiência do evento é mesmo o Vale-Cultura. Os participantes estão interessados em entender como a implantação do programa vai interferir e impactar o mercado. Espera-se que sejam injetados na economia cultural do País mais de R$ 25 bilhões e o que os associados da ABDL querem é abocanhar a maior fatia desse bolo.
E já que o Vale-Cultura foi eleito a vedete do Salão, foi convidada Ana Cristina Wanzeler, secretária de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. No encontro com os associados no fim da tarde de ontem (17/02), ela falou do grande objetivo do Vale-Cultura: incluir produtos culturais na cesta básica dos brasileiros e apresentou os números que demonstram o potencial do benefício. São cerca de 5,1 milhões de empresas aptas a aderir ao programa e mais de 42 milhões de trabalhadores que podem se transformar em beneficiário do Vale.
As operações do Vale-Cultura começaram há pouco mais de duas semanas e, nesse período, 1.410 empresas já se cadastraram e 150 mil cartões já foram distribuídos. O MinC não estabeleceu metas para 2014. “É um ano atípico, com Copa do Mundo e eleições, então, preferimos não estabelecer metas para 2014. Além disso, como a adesão ao programa é voluntária, não depende apenas do trabalho do ministério”, explicou a secretária. Ela contou ainda que os dois maiores bancos públicos já aderiram. Na Caixa Econômica, 27 mil funcionários já estão usando o Vale-Cultura e no Banco do Brasil outros 36 mil beneficiários.
Ana Cristina falou ainda que uma das próximas missões do Vale-Cultura será obter, sistematizar e divulgar as informações geradas pelo programa. “Queremos saber com o que e como as pessoas estão gastando o Vale-Cultura. O mercado tem muito a avançar com isso”, defendeu a secretária.
O presidente da ABDL chamou pra si a responsabilidade de fomentar e difundir o Vale-Cultura pelo Brasil. Para ele, cada vendedor porta a porta tem o potencial de divulgar e gerar o interesse pelo benefício e, claro, puxar a sardinha para a brasa do livro. “O Vale-Cultura serve para muitas outras coisas. Quem tem que puxar isso para o livro somos nós”, defendeu.
Um dado que chamou a atenção do MinC foi a presença maciça de empresas de pequeno porte no programa. Segundo informações apresentadas pela secretária durante a sua palestra no Salão de Negócios da ABDL, 70% das empresas cadastradas pertencem a essa categoria. Em entrevista exclusiva ao PublishNews, Ana Cristina comentou que acredita que as grandes empresas já têm políticas de incentivo e de fomento à cultura e, por isso ainda não aderiram ao programa. Ela contou ainda que cerca de 20 empresas cadastradas tinham apenas um funcionário.
Vale-Cultura e o porta a porta
Ok que a expectativa de crescimento é real e que o impacto do Vale-Cultura no setor de vendas de porta a porta será grande, mas como se dará a operacionalização disso? De acordo com Diego Drumond, boa parte das equipes de vendas já usa a máquina de cartões. “No Vale-Cultura, o porta a porta é o que tem mais chance de crescer. Conseguimos ter uma agilidade que outros players do mercado não têm”, avalia o presidente. E a ABDL já está fazendo o seu trabalho de casa. Todos os funcionários da entidade já receberam e estão usando o cartão.
Para o presidente, o Vale-Cultura é um fôlego extra ao mercado. “O porta a porta é um canal que tem tendência de crescimento. Ele não cresceu tudo o que tem para crescer. Só não cresce mais por falta de vendedores”, explicou Diego. A capacidade de criar oportunidades de vendas é uma das marcas registradas dos vendedores de porta a porta. “Há equipes de vendas que já estão se organizando para criar feiras de livros dentro das empresas que adotaram o Vale-Cultura”, contou Diego.
Capilaridade
A capilaridade do mercado de porta a porta é mesmo impressionante. A Mundial Editora é um exemplo disso. Criada há dez anos por Rodrigo Stabile, a empresa se consolidou em um nicho impensável para os grandes centros: o telemarketing. Com sede na cidade de Birigui, a Mundial teve um crescimento explosivo. Hoje conta com duas mil posições de telemarketing (esse número é superior, por exemplo, ao número de posições de centrais telefônicas de grandes empresas) e vende cerca de 250 mil livros por mês. “Nosso foco são os estados das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste”, explica Rodrigo. “Com o Vale-Cultura, esperamos um aumento entre 10 e 20% no faturamento”, estimou o diretor.
Fonte: PublishNews – Por Leonardo Neto