Com 30 funcionários, seis anos de vida, faturamento anual de R$ 2,5 milhões e uma sede discreta na Ilha do Leite, no Recife, a Mix Tecnologia quer brigar com gente grande. Em junho, a empresa vai lançar o primeiro leitor eletrônico de livros com software 100% nacional – um equipamento que vai dividir espaço no mercado brasileiro com produtos de gigantes do mundo da tecnologia, como Apple, Sony e Amazon.
“Quem é empreendedor tem de ter essa veia de aventura”, diz o pernambucano Murilo Marinho, que fundou a empresa em 2004, assim que concluiu a faculdade de Ciências da Computação. “Conciliamos, claro, um pouco de loucura a uma base sólida de conhecimento tecnológico.”
Marinho brinca com a ousadia que o levou a desenvolver o primeiro “e-book reader” nacional , mas tem um discurso consistente para defendê-lo e diferenciá-lo dos maiores, Kindle e iPad.
O aparelho brasileiro está sendo criado, inicialmente, para ser usado em sala de aula, com função essencialmente educacional. A ideia é que o professor use o dispositivo para agendar tarefas, aplicar testes, fazer apresentações. Para isso, todos os alunos teriam de ter o aparelho. “O Brasil é o maior consumidor de livro didático do mundo”, diz Marinho. “Hoje tem escola fazendo rodízio de livros, para o aluno não levar tanto peso nas costas. Queremos oferecer uma alternativa.”
O aparelho foi batizado de Mix Leitor D. Além de leitor, ele oferece funções como dicionário, tradutor, agenda e calendário. Pesa 400 gramas e tem de 1 GB a 4 GB de capacidade dependendo do modelo. Deve ter conexão à internet com portal que direciona o usuário para bibliotecas de domínio público. O visual lembra muito o Kindle, embora o criador não admita comparações. O preço de cada aparelho deve variar de R$ 650 a R$ 1.100.
A Mix Tecnologia está tentando fechar contratos com universidades, escolas, governos estaduais e municipais. Diz ter começado o ano, mesmo antes do lançamento, com uma encomenda de 5 mil unidades. O segundo passo, de acordo com o empresário, é fazer clientes na área jurídica e fechar contratos com tribunais de Justiça de todo o País.
Mendes não informa o estágio dessas negociações, por “questões estratégicas”, diz apenas que nenhum desses mercados está em Pernambuco, berço da ideia. Para tornar o Mix leitor D uma realidade, foram necessários R$ 2 milhões até agora. O investimento é uma parceria da própria empresa de tecnologia com a editora que motivou o projeto, a Carpe Diem, do escritor e empresário Antônio Campos.
Estudioso e amante dos livros de papel, Campos começou a pesquisar o alcance dos e-readers e identificou neles um novo mercado. “O livro já foi oral, já foi escrito em pedras e só vai crescer”, diz. Ele acredita que o LIVRO eletrônico vai ganhar espaço rapidamente embora ainda deva conviver por um bom tempo com a plataforma impressa. “Essa transformação será mais ágil com os livros didáticos, já que a atualização torna-se muito mais rápida no meio eletrônico.” Campos já se considera um colecionador de leitores: tem um Kindle, o e-reader da Sony, o Mix Leitor D e espera para comprar um iPad.
DIFICULDADES
O maior desafio da Mix Tecnologia foi desenvolver o projeto e colocá-lo no mercado num prazo máximo de dois anos, “para não perder a onda”. Quando o Mix Leitor D ainda era uma ideia, o grupo pensou em construir uma fábrica no Recife para produzi-lo. Documentação, alvarás, autorizações em todas as esferas públicas, no entanto, inviabilizariam os planos.
Como já é comum no setor de tecnologia, o jeito foi apelar para a China. O leitor foi desenvolvido no Brasil, mas ganha forma do outro lado do mundo. Os primeiros aparelhos começam a chegar em maio.
Além do ambicioso projeto do leitor D, a Mix Tecnologia desenvolve outros duas ideias, também ambiciosas. Murilo Mendes e sua equipe criaram um sistema de controle para entrada e saída de turistas em Fernando de Noronha. O programa gerencia quanto tempo cada um dos visitantes passou na ilha, por onde passou e em que pousada ficou.
E eles também pretendem faturar com a Copa do Mundo de 2014.
Desenvolveram uma rede social inédita, batizada de Arena, para gerenciar eventos esportivos, com uma base de dados única, com informações turísticas e sobre o evento. O projeto já foi selecionado e premiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do governo federal.
Autora: Naiana Oscar
Fonte: O Estado de S. Paulo