No Dia do Vendedor de Livros, profissionais falam sobre as dores e as delícias de levar conhecimento aos leitores
De porta em porta, com um jeito tímido e um sorriso no rosto, Mário Sávio da Silva, 56 anos, sempre carregou argumentos para vender o saber. Nem o peso de 15 quilos da pilha de livros ou os dedos com marcas das insistentes batidas nas portas são motivos para cansar ou desistir. Silva escreve sua história como vendedor há 38 anos. Entre respostas de sim e não, as páginas foram viradas. Se antes, levava o conhecimento à residência, hoje vende a cultura em escolas, creches e prefeituras da região. Só tem motivos para comemorar hoje, no Dia do Vendedor de Livros. Em 2008, Silva recebeu um prêmio da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL). Foi agraciado com o título de o mais velho vendedor em Santa Catarina. Ao abrir as páginas da bíblia editada nos EUA, que guarda na estante da sala, lembra com orgulho:
– Já vendemos mais de 5 mil bíblias. Depois dela, os dicionários foram os mais requisitados. Natural de Indaial, filho de pais agricultores, deixou a lavoura de lado quando se encantou com as palavras impressas nas obras vendidas pelo irmão José Bosco da Silva. Com o caminho traçado, foi morar em Blumenau em 1974. Embarcou num Fusca, encheu o veículo de livros e escreveu as primeiras páginas de sua trajetória na profissão.
– Chegamos a ser mais de 30. Íamos numa Kombi para um ponto dos municípios e cada um traçava as regiões de vendas. Às vezes, ficávamos de 10 a 15 dias na cidade. As pilhas de enciclopédias, dicionários, bíblias e obras de culinária, às vezes, intimidavam os moradores.
– A principal dificuldade era a abordagem. Levei algumas mordidas de cachorros e fiquei com marcas nos dedos de tanto bater nas portas, relembra Silva. Hoje, a C&R Cultural Comércio de Livros, aberta por Silva em 2008 em Blumenau, oferece mais de 200 títulos de literatura infantil e material pedagógico. O gosto pela profissão foi repassado aos filhos Caroline e Rafael. Ela auxilia na administração da empresa enquanto o rapaz ajuda o pai na venda em prefeituras e escolas dos municípios da região do Vale do Itajaí.
– Não consigo ler todos. Mas, tenho conhecimento do que se trata e aprofundo as leituras na medida do possível, afirma Silva que completou o Ensino Médio e enaltece que a melhor escola é a vida. Em relação à internet, ele pontua que não sentiu diferença em relação às vendas:
– As pessoas querem ter o produto em mãos e folhear. Com os clientes, ele brinca que vende cultura em metro.
O argumento se confirma ao relembrar um fato ocorrido em Florianópolis, em 1980:
– Um engenheiro solicitou 1,15 metro de livros, quantidade que faltava para completar a estante dele, recorda, entre risos, o vendedor que realizou sonhos com a própria profissão.
Fonte: Jornal de Santa Catarina