Responda rápido: o Brasil é um país de leitores ou de não-leitores?
De olho em números como aqueles trazidos pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (que eu coordenei, em 2008, para o Instituto Pró-Livro), indicando, por exemplo, que 77 milhões de brasileiros confessam não terem sequer folheado um livro nos últimos tempos, muitos dirão, com toda razão, que, de fato, não é este um país de cidadãos leitores.
Mas talvez alguns – olhando para esse mesmo estudo, que também apontou que 95 milhões de brasileiros garantem terem lido pelo menos um livro nos três meses anteriores – não pensem bem assim. Não que digam exatamente que o Brasil tornou-se um país de leitores. Mas que podemos estar no caminho para, um dia, finalmente poder dizer isso.
É muito provável que parte desses presumíveis leitores não tenha aberto um livro nos últimos tempos ou, se abriram, não chegaram ao fim deles (por sinal, um dos direitos do leitor, de acordo com a UNESCO). De qualquer maneira, já é este um indicativo de alguma valorização do livro e da leitura no imaginário coletivo da sociedade.
Muitos desses acharam que seria, no mínimo, desconfortável dizer que simplesmente não leem. No Reino Unido, um estudo mostrou, por exemplo, que jovens mentem que leram determinadas obras porque isso faz com que sejam mais bem avaliados perante o sexo oposto. Melhor ainda, evidentemente, será quando tiverem de fato lido os livros que disseram ter lido. Mas não deixa de ser um dado.
Um outro dado, que também mostra as disparidades não só dos números como das práticas (ou não) leitoras pelo País afora, foi a festa organizada no último dia 21 de maio pela editora carioca Sextante. Tinha bolo e tudo. O motivo: celebrar a expressiva marca de 2 milhões de livros vendidos do seu título A cabana, de William P. Young. A obra permaneceu mais de 80 semanas entre os mais vendidos nas listas dos principais veículos de comunicação.
O que, convenhamos, não é pouco. Sobretudo quando se ouve editores se queixarem que a tiragem média no Brasil não passa de 3 mil exemplares e que isso leva anos para ser vendido – quando é vendido.
Para vender mais livros é preciso ter mais leitores. Para ter mais leitores é preciso incentivar mais a leitura. E para incentivar mais a leitura é preciso ter políticas públicas. E o Brasil, pela primeira vez, em mais de 500 anos de história, hoje já tem um Plano Nacional do Livro e da Leitura, que tem investido em mais e novas bibliotecas, ampliou o número de feiras e bienais do livro, isentou o livro de impostos e investiu em propagandas.
É pouco?
Sim, ainda é pouco, porque há muito o que fazer para vencer um histórico de ausência absoluta de políticas públicas e o descaso de diversos governos. Mas a sensação é que sociedade e Estado começam a virar esse jogo. É o efeito dominó do bem: mais políticas públicas, mais incentivos, mais leitores, mais vendas. E um Brasil mais preparado e justo.
Autor: Galeno Amorim